depoimento
"A tortura é violenta e brutal para homens e mulheres. Mas o torturador é homem. A relação de poder, a relação machista do torturador sobre a torturada se faz sentir o tempo todo.
"Por exemplo, os casos de estupro foram uma constante. Há uma diferença nesse aspecto. Todos os presos são interrogados e torturados nus. Mas é diferente a situação de um preso nu na frente dos torturadores e de uma presa nua diante dos torturadores. Há uma grande diferença.
"Outra coisa, o preso não tem privacidade sequer para ir ao banheiro. A privacidade faz falta a todos mas para a mulher ela é muito mais sentida.
"O meu caso é relevante, é específico em relação aos presos do sexo masculino: eu estava grávida. Não significava apenas uma tortura a mim, mas a meu filho. Antes e depois de tê-lo.
"Quando eu era torturada, o bebê tinha soluço dentro do útero. Depois que nasceu, ele tinha soluço quando ouvia barulhos semelhantes ao que ouvira na tortura. Barulhos de metal, de chave.
"Quando se tortura uma grávida, não se tortura apenas uma pessoa, mas duas. Uma delas sequer tem consciência do que está se passando. Isso é uma coisa das mais graves.
"Depois que meu filho nasceu, ele foi usado como instrumento para me torturar. Impediram-me de amamentá-lo, porque eu me recusava a cooperar com eles. Eu dizia que não daria nenhum depoimento, enquanto não tivesse garantia sobre a vida do meu filho.
"Era uma briga. Eu tinha certo que...Eu tinha que brigar. Não sabia como, mas a única coisa que eu possuía, eram as informações Assim que eu as desse, não teria mais como brigar. Acabei conseguindo que o meu bebê saísse antes de mim. Ele ficou cincoenta e poucos dias naquele hospital. Num hospital com guardas, com metralhadoras..
"Consegui que o Exército entrasse em contato com minha tia e ela foi buscá-lo. Acredito que meu filho sofreu e ainda sofre as sequelas de toda essa experiência. Mas sinto que ele tem uma admiração muito grande pelo que os seus pais fizeram (..)
"Já que estou falando da minha experiência na prisão, eu considero que é a pior experiência que se pode ter. Para mim a liberdade é um bem e privar alguém dela é o que há de pior.
"Fui presa na data de 29 de dezembro de 1972. Inicialmente fiquei na rua Tutóia, na Operação Bandeirantes, em S. Paulo. No dia 22 de janeiro de 1973 fui transferida para o Pelotão de Investigações Criminais, em Brasília. Na data de 12 de fevereiro, fui levada para o Hospiital da Guarnição, também na capital federal.
"Em primeiro de abril voltei para o Pelotão de Investigações Criminais. Em 19 desse mesmo mês e ano fui escoltada por três militares e levada à casa de minha tia, em Belo Horizonte, onde se encontrava meu filho. Estava em liberdade vigiada.
"Após deixar a prisão vivi uma situação estranha, porque não era uma pessoa processada, mas não era uma pessoa livre. Era seguida, era importunada pelos agentes da repressão.
"O general Bandeira de Melo disse que eu não seria processada, que eu não seria condenada, mas que eu ia morrer, pois ia ser atropelada, ou ia ser assaltada, ou, ainda, ser "suicidada".
"A presença deles era constante, me lembro isso. Saí da prisão mas não era uma pessoa livre. Havia ameaças. Essas ameaças poderiam se estender a meu filho, a meus sobrinhos...Era uma constante, era uma tortura.
"Aliás a tortura é uma coisa que não acaba. Defendemos que na Constituição, a tortura deveria ser crime imprescritível(...) A tortura não prescreve, jamais, para o torturado. Ela é permanente, porque a lembrança não se apaga. E a impunidade reforça essa certeza
(depoimento de C.A.S.A à dra. Ruth Ribeiro de Lima em SP - outubro de 1996).
Militantes políticas
assassinadas
pelo regime militar
Maria Ângela Ribeiro
Alceri Maria Gomes da Silva
Marilene Villas Boas Pinto
Nilda Carvalho Cunha
Iara Yavelberg
Ana Maria Nacinovic
Aurora Maria Nasimento
Gastone Lúcia Pereira da Silva
Lígia Maria Salgado Nóbrega
Lourdes Maria Wanderley Pontes
Maria Regina Lobo Leite
Paulina Reichstul
Ranúsia Alves Rodrigues
Anatália de Souza Alves de Melo
Soledad Barret Viedma
Sônia Maria de Moraes Lopes
Maria Auxiliadora Lara Barcelos
Neide Alves dos Santos
Ana Rosa Kucinski Silva
Áurea Elisa Pereira Valadão
Dinaelza Soares Santana
Dinalva Oliveira Teixeira
Heleni Telles Pereira Guariba
Helenira Rezende de Souza Nazareth
Ieda Santos Delgado
Ísis Dias Oliveira
Jana Morone Barroso
Lúcia Maria de Souza
Luiza Augusta Garlippe
Maria Augusta Thomaz
Maria Célia Corrêa
Maria Lúcia Petit da Silva
Suely Yumiko Kamayana
Telma Regina Cordeiro Corrêa
Walquíria Afonso da Costa
Maria Regina Marcondes PintoJane Vanini
sábado, 6 de junho de 2009
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