quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

2014 - Golpe 50 Anos


quinta-feira, 6 de agosto de 2009

O dia a dia sem liberdade

RICARDO BANDEIRA
um mímico é obrigado
a aturar
a censura prévia


Esse absurdo eu testemunhei.
Ele me convidou e eu acompanhei a censura prévia de um espetáculo sem palavras,
só gestos da Arte da Mímica.

Era uma tarde de sol e a censora, uma
senhora distinta, assistiu ao espetáculo
encenado só para ela
numa sala do Teatro da Universidade Católica
de S. Paulo, o Tuca.

Curso sobre censura no Masp

Fiquei tão indignado quando li no jornal que um censor ia dar um curso para mostrar sua arte, que
resolvi ver de perto.

O "curso para ser censor" durou quatro dias no
auditório do Masp. O local acho que foi escolhido para dar dignidade ao tema.

Antes, porém, contudo, todavia ofereci a cobertura completa do "evento" para o semanário Movimento, do Raimundo Rodrigues Pereira, o único dono de um jornal decente
no período Medici.

O censor não enganou ninguém, ensinou tudo o que sabia a uma reduzida mas atenta e assídua platéia. Foram aulas de Educação Moral e Cívica da Ditadura.


Eu e o ccc

Um dia de 1993 fui vender meus livros na Faculdade de Direito da USP e um exemplar caiu nas mãos do
dr. Batráquio, então presidente da OAB paulista.

Ele mandou me chamar.
Quando entrei no escritório, ao lado da Igreja da Sé, as portas foram trancadas e o fone ficou fora do gancho (?).

Ele disse:

- Quem foi que te mandou para prejudicar minha campanha à presidência nacional?

Não entendi e então ele explicou que seu nome aparece no meu livro como membro do ccc na sua juventude.

Deu cínica e desafiadoramente um cartão
(é meu souvenir até hoje) autorizando a procurar ficha dele no arquivo do Dops paulistano...
e ameaçou com processo de calúnia.

No dia seguinte cedo ligou lá em casa (não sei
onde achou o número, na lista não tinha)
perguntando se eu
tinha dormido bem..

Contei a história para o meu amigo Marcos Rey
e mostrei o cartão timbrado e assinado.

Marcos deu uma sugestão e eu segui.
Escrever uma carta dizendo que eu era
um pai de familia buscando o sustento,
não era conspirador e não queria abrir feridas do passado.

Nunca mais fui "procurado".
Ah, a carta eu protocolei na OAB dele,
para tornar o caso público.

E não é que o cara ganhou a eleição nacional?

E não é que o cara foi ccc na juventude,
conforme minhas fontes, a revista O Cruzeiro e estudantes daquela época?


A Guerrilha brasileirissima

A guerrilha foi a forma de luta usada em dois momentos marcantes na história do Brasil do século passado.
Era a tática da Coluna Prestes ao percorrer (entre 1925/27)
25 mil quilômetros pelo interior do País para contestar as oligarquias republicanas que se revezavam no poder.


Foi também a forma de luta escolhida pelos democratas para enfrentar o regime militar instalado em 64.
Para confundir a opinião pública a ditadura inventou que os opositores queriam instalar o comunismo no Brasil e por isso tinham que ser ... exterminados.
Nossos guerrilheiros modernos não lutavam para instalar o regime comunista. Exigiam pela luta armada o retorno da Democracia com a vigência da Constituição de 45.

Tanto é verdade que no governo democrático de João Goulart nenhum segmento político de esquerda defendia a luta armada para tomar o poder.
O socialismo viria pelas urnas como no Chile na mesma década de 70 com a eleição de Salvador Allende.

A máquina de desinformação da ditadura fez valer sua versão até hoje mas o blog Memória da Ditadura está aqui para pôr as coisas em pratos limpos. Viva o Brasil Democrático.


As Duas Ditaduras

Análise

A ditadura clandestina era formada por setores das Forças Armadas que queriam mais rigor contra os inimigos do regime militar.

Os radicais de alta patente remuneravam regiamente os encarregados das ações terroristas planejadas por eles, usando siglas fictícias para indicar a autoria.

Mostravam com os atentados sua insatisfação contra pessoas e instituições que a repressão oficial não podia ou não queria alcançar.

Através da violência indicavam também o caminho a seguir.

Um exemplo claro. No governo Medici - quando foi maior o número de casos de tortura e desaparecimento de combatentes da Democracia - os atentados somam dois, contra o humor do jornal O Pasquim.

As ações: pichação e empalastelamento. Depois, todos da redação ficaram presos alguns dias. Os agentes da ditadura clandestina também se ocupavam de ações da repressão oficial.

No período Figueiredo, marcado pela decretação da Lei da Anistia, a qual eram contra, a conta chega a 41, com assassinato e sequestro.

Atentados "leves" como pichações, explosão de bombas fracas, depredação e ameaças eram geralmente assinados pelas siglas GAC, FUR, MAC, MRN. Exceção é o período Costa e Silva.

Quando o atentado era assinado pelas siglas AAB, FPN, VCC, indicava sequestro, morte ou prejuízo material elevado provocado por bombas potentes só disponíveis nos quartéis do Exército.

Exceção é a trajetória da sigla CCC. Sua primeira aparição foi em 63, no atentado ao ministro de Goulart, Pinheiro Machado, no largo S. Francisco em SP. Policiais civis e militares estavam no grupo.

Depois a sigla reapareceu com força total em 1968, integrada por
estudantes, com cobertura e municiamento policial. A ditadura clandestina também usou a sigla algumas vezes até 80 para a autoria de mais ações violentas.


Em seguida, um paralelo entre os governos da ditadura oficial,
os atentados terroristas de extrema direita e os fatos políticos marcantes que levaram ou que resultaram nas ações.

Costa e Silva

26 atentados

- Dois assassinatos
- Quatro sequestros
- Espancamento
- Bombas

Siglas usadas: CCC, MAC, FUR

Fatos do periodo - Protestos de estudantes nas ruas e de parlamentares no Congresso pela Democracia.
Edição do AI 5 e endurecimento total do regime militar

Medici

Apenas pichação e empastelamento do jornal humorístico carioca "O Pasquim". Logo em seguida a ditadura oficial prendeu todos da redação como complemento à intimidação.

Sigla usada: CCC

Fatos do período - Criação da Oban, Doi-Codi.
Guerrilha urbana e rural começam a atuar em defesa da Democracia.

Entre 70 e 75 não há notícia de atentados de extrema direita mas no período desapareceram 47 brasileiros e 72 morreram em câmaras de tortura, nas contas do Comitê Brasileiro pela Anistia.

Geisel

17 atentados

- Três sequestros
- Bombas das Forças Armadas na ABI e OAB
- Pichação
- Agressões
- Depredação
- Invasão
- Metralhamento
- Bombas

Siglas usadas : AAB, MAC, GAC

Fatos do período - Início da "lenta e gradual" abertura política.
Crise internacional do petróleo

Figueiredo

41 atentados

- Um assassinato
- Um sequestro com agressão
- Cartas bomba
- Depredação
- Ameaças
- Agressões
- Incêndio
- Pichação
- Metralhamento

Siglas usadas: MRN, CCC, FPN, VCC

Fatos do período - Decretada a Anistia Ampla, Geral e Irrestrita (?)



As siglas funcionavam numa espécie de divisão de trabalho - para simples pichações eram umas, para ações violentas eram outras, exceto no caso do CCC.

Os componentes dos grupos eram os mesmos em cada período, embora as siglas fossem diferentes: integrantes dos "orgãos de segurança ", policiais, caceteiros e individuos desclassificados, todos bem remunerados.

Para cada ação preparava-se a logística de cobertura. Conclui-se que
eram vários os envolvidos.

A única identificação positiva foi, por ironia , no atentado que não deu certo, no Riocentro, em 1981. A imprensa chegou a tempo para fotos e reportagem: a logística de proteção aos militares-terroristas também falhou...

O artefato explodiu no colo do sargento Rosário quando era manipulado para ser instalado no quadro de energia do local, durante um show de música popular brasileira a favor da Democracia.

Além do sargento que morreu despedaçado dentro de automóvel Puma, participou da ação um tenente, hoje coronel do
Exército Brasileiro.

Todos os que participaram desses atos terroristas ficaram impunes, alguns foram promovidos a posições importantes, trabalham até hoje na máquina do Estado ou se aposentaram.

A Força da Grana

Analisemos agora de onde vinha a " remuneração" aos elementos convocados pela ditadura clandestina em cada período de governo militar.

Uma das razões do silêncio é que com o dinheiro ganho no "negócio da tortura e do atentado" comprava-se casa, apartamento , viajava-se ao exteror ou montava-se um bom negócio. O silêncio era bem remunerado.

Dona Eunice Paiva, esposa do deputado federal Rubens Paiva, até hoje desaparecido, ouviu de um torturador que "com o dinheiro ganho no negócio" poderia mandar os filhos para estudar na Suiça.

Uma evidência de que o SNI participava da ditadura clandestina deu a Veja, no momento mais violento do regime militar.

O general chefe, com fama de linha duríssima, disse que triplicou o seu orçamento no período Medici, e que a maior "verba" era gasta com... informantes.

Como tudo era secreto e sem qualquer controle, não se sabe o que a agência de espiões da ditadura fazia com os milhões vindos dos impotos pagos por nós.

Outra evidência de que se sabia o que cada um fazia foi dada pelo Estadão, quando uma bomba foi jogada pela AAB no Cebrap em setembro de 76.

O instituto de pesquisa era dirigido pelo sociólogo Fernando Henrique Cardoso.

O secretário de "Segurança" de S. Paulo, coronel PM Erasmo Dias, conhecido radical da época, informou ao governador Paulo Egídio Martins que "mandou parar com as bombas".

O industrial Severo Gomes ouviu a conversa e a revelou ao jornal.

Atentados de extrema direita nos governos militares

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Memória da Ditadura

A instalação do regime que suspendeu a democracia brasileira por quase três décadas completou 45 anos e pouco se comentou.

Um canal de TV mostrou o Museu da Ditadura com vítimas descrevendo as torturas sofridas na polícia política paulista, então Dops, hoje sede do museu.

Apareceram caras novas como o Alipio Freire e a Rose Nogueira, ex-torturados indignados porque a Folha de S. Paulo publicou que tivemos uma "ditabranda" - uma ditadura muitissimo mais leve que no Chile, Argentina e Uruguai. O filho do metalúrgico Seixas descreveu de novo as torturas que recebeu ainda menino lá no prédio, e lembrou a morte do pai a pauladas numa das celas.

Não se quer lembrar o passado recente, não se viu nenhuma reflexão sobre essa tragédia brasileira. Nossa memória pode esquecer a violência perpetrada a partir de 64.

A brutalidade produz a paralisação coletiva 45 anos depois. Ou é o povo que não sabe o que é Democracia?

A familia Goulart teve que fazer em Montevidéu um ato para lembrar o aniversário de 45 anos da deposição do presidente eleito Jango.

O fantasma da ditadura terrorista ainda tem o poder de determinar aos vivos a memória permitida. Também não é para menos. Os principais colaboradores do regime militar estão por toda a máquina do estado.

A ironia é aquele delegado, ex-diretor da polícia política paulista, por vários anos supervisor da tortura aplicada nas celas do hoje museu.

Foi reeleito deputado federal. O Congresso tem vários colaboradores daquele regime, eleitos na democracia atual.
Não é a toa que um ministro daquele tempo declarou recentemente que os militares ajudaram a aperfeiçoar a democracia brasileira (?).

Já se disse que estamos perdendo a memória cotidiana do período. Perdemos para o novo oficialismo que reconta seletivamente a nossa história contemporânea.

Os responsáveis pelas instituições da ditadura que cometeram os crimes se recusam a revelar a verdade sobre o que ocorreu no passado. Eles ajudaram a montar um estado policial que durou 21 anos, durante os quais mais de 300 mil brasileiros foram fichados como inimigos da pátria.

Para a ditadura não houve crimes mas ações legais contra a luta armada promovida por um grupo com ideologia comunista.

Essa idéia moveu alguns militares, tendo à frente o comandante militar do Leste, a celebrar em ato festivo no Clube Militar do Rio os 45 anos do golpe. Como parte da festa inauguraram placas com nomes de colegas mortos na luta contra a guerrilha urbana.

O ministro da Defesa condenou o ato, mas lembrou que vivemos na Democracia e todos podem falar, até os equivocados. "Do meu ponto de vista isso é questão do passado", disse em Maceió.

Uma vítima da ditadura, hoje psicóloga, explicou: os agentes do regime que morreram estavam a serviço de um Estado que cometeu crimes de lesa humanidade.

Estima-se em 426 o total de brasileiros mortos e desaparecidos por perseguição política e em mais de dois mil os torturados.

A luta dos democratas agora é contra a tática de esquecimento dos aliados da ditadura, de políticos e de importantes segmentos da sociedade. Tenta-se impedir a reconstituição da tragédia que se abateu sobre este país na segunda metade do século passado. Cabe à História revelar a verdade.

sábado, 6 de junho de 2009

A Tortura à Mulher

depoimento

"A tortura é violenta e brutal para homens e mulheres. Mas o torturador é homem. A relação de poder, a relação machista do torturador sobre a torturada se faz sentir o tempo todo.

"Por exemplo, os casos de estupro foram uma constante. Há uma diferença nesse aspecto. Todos os presos são interrogados e torturados nus. Mas é diferente a situação de um preso nu na frente dos torturadores e de uma presa nua diante dos torturadores. Há uma grande diferença.

"Outra coisa, o preso não tem privacidade sequer para ir ao banheiro. A privacidade faz falta a todos mas para a mulher ela é muito mais sentida.

"O meu caso é relevante, é específico em relação aos presos do sexo masculino: eu estava grávida. Não significava apenas uma tortura a mim, mas a meu filho. Antes e depois de tê-lo.

"Quando eu era torturada, o bebê tinha soluço dentro do útero. Depois que nasceu, ele tinha soluço quando ouvia barulhos semelhantes ao que ouvira na tortura. Barulhos de metal, de chave.

"Quando se tortura uma grávida, não se tortura apenas uma pessoa, mas duas. Uma delas sequer tem consciência do que está se passando. Isso é uma coisa das mais graves.

"Depois que meu filho nasceu, ele foi usado como instrumento para me torturar. Impediram-me de amamentá-lo, porque eu me recusava a cooperar com eles. Eu dizia que não daria nenhum depoimento, enquanto não tivesse garantia sobre a vida do meu filho.

"Era uma briga. Eu tinha certo que...Eu tinha que brigar. Não sabia como, mas a única coisa que eu possuía, eram as informações Assim que eu as desse, não teria mais como brigar. Acabei conseguindo que o meu bebê saísse antes de mim. Ele ficou cincoenta e poucos dias naquele hospital. Num hospital com guardas, com metralhadoras..

"Consegui que o Exército entrasse em contato com minha tia e ela foi buscá-lo. Acredito que meu filho sofreu e ainda sofre as sequelas de toda essa experiência. Mas sinto que ele tem uma admiração muito grande pelo que os seus pais fizeram (..)

"Já que estou falando da minha experiência na prisão, eu considero que é a pior experiência que se pode ter. Para mim a liberdade é um bem e privar alguém dela é o que há de pior.

"Fui presa na data de 29 de dezembro de 1972. Inicialmente fiquei na rua Tutóia, na Operação Bandeirantes, em S. Paulo. No dia 22 de janeiro de 1973 fui transferida para o Pelotão de Investigações Criminais, em Brasília. Na data de 12 de fevereiro, fui levada para o Hospiital da Guarnição, também na capital federal.

"Em primeiro de abril voltei para o Pelotão de Investigações Criminais. Em 19 desse mesmo mês e ano fui escoltada por três militares e levada à casa de minha tia, em Belo Horizonte, onde se encontrava meu filho. Estava em liberdade vigiada.

"Após deixar a prisão vivi uma situação estranha, porque não era uma pessoa processada, mas não era uma pessoa livre. Era seguida, era importunada pelos agentes da repressão.

"O general Bandeira de Melo disse que eu não seria processada, que eu não seria condenada, mas que eu ia morrer, pois ia ser atropelada, ou ia ser assaltada, ou, ainda, ser "suicidada".

"A presença deles era constante, me lembro isso. Saí da prisão mas não era uma pessoa livre. Havia ameaças. Essas ameaças poderiam se estender a meu filho, a meus sobrinhos...Era uma constante, era uma tortura.

"Aliás a tortura é uma coisa que não acaba. Defendemos que na Constituição, a tortura deveria ser crime imprescritível(...) A tortura não prescreve, jamais, para o torturado. Ela é permanente, porque a lembrança não se apaga. E a impunidade reforça essa certeza


(depoimento de C.A.S.A à dra. Ruth Ribeiro de Lima em SP - outubro de 1996).



Militantes políticas


assassinadas

pelo regime militar


Maria Ângela Ribeiro

Alceri Maria Gomes da Silva

Marilene Villas Boas Pinto

Nilda Carvalho Cunha

Iara Yavelberg

Ana Maria Nacinovic

Aurora Maria Nasimento

Gastone Lúcia Pereira da Silva

Lígia Maria Salgado Nóbrega

Lourdes Maria Wanderley Pontes

Maria Regina Lobo Leite

Paulina Reichstul

Ranúsia Alves Rodrigues

Anatália de Souza Alves de Melo

Soledad Barret Viedma

Sônia Maria de Moraes Lopes

Maria Auxiliadora Lara Barcelos


Neide Alves dos Santos

Ana Rosa Kucinski Silva

Áurea Elisa Pereira Valadão

Dinaelza Soares Santana

Dinalva Oliveira Teixeira

Heleni Telles Pereira Guariba

Helenira Rezende de Souza Nazareth

Ieda Santos Delgado

Ísis Dias Oliveira

Jana Morone Barroso

Lúcia Maria de Souza

Luiza Augusta Garlippe

Maria Augusta Thomaz

Maria Célia Corrêa

Maria Lúcia Petit da Silva

Suely Yumiko Kamayana

Telma Regina Cordeiro Corrêa

Walquíria Afonso da Costa

Maria Regina Marcondes PintoJane Vanini