quinta-feira, 6 de agosto de 2009

O dia a dia sem liberdade

RICARDO BANDEIRA
um mímico é obrigado
a aturar
a censura prévia


Esse absurdo eu testemunhei.
Ele me convidou e eu acompanhei a censura prévia de um espetáculo sem palavras,
só gestos da Arte da Mímica.

Era uma tarde de sol e a censora, uma
senhora distinta, assistiu ao espetáculo
encenado só para ela
numa sala do Teatro da Universidade Católica
de S. Paulo, o Tuca.

Curso sobre censura no Masp

Fiquei tão indignado quando li no jornal que um censor ia dar um curso para mostrar sua arte, que
resolvi ver de perto.

O "curso para ser censor" durou quatro dias no
auditório do Masp. O local acho que foi escolhido para dar dignidade ao tema.

Antes, porém, contudo, todavia ofereci a cobertura completa do "evento" para o semanário Movimento, do Raimundo Rodrigues Pereira, o único dono de um jornal decente
no período Medici.

O censor não enganou ninguém, ensinou tudo o que sabia a uma reduzida mas atenta e assídua platéia. Foram aulas de Educação Moral e Cívica da Ditadura.


Eu e o ccc

Um dia de 1993 fui vender meus livros na Faculdade de Direito da USP e um exemplar caiu nas mãos do
dr. Batráquio, então presidente da OAB paulista.

Ele mandou me chamar.
Quando entrei no escritório, ao lado da Igreja da Sé, as portas foram trancadas e o fone ficou fora do gancho (?).

Ele disse:

- Quem foi que te mandou para prejudicar minha campanha à presidência nacional?

Não entendi e então ele explicou que seu nome aparece no meu livro como membro do ccc na sua juventude.

Deu cínica e desafiadoramente um cartão
(é meu souvenir até hoje) autorizando a procurar ficha dele no arquivo do Dops paulistano...
e ameaçou com processo de calúnia.

No dia seguinte cedo ligou lá em casa (não sei
onde achou o número, na lista não tinha)
perguntando se eu
tinha dormido bem..

Contei a história para o meu amigo Marcos Rey
e mostrei o cartão timbrado e assinado.

Marcos deu uma sugestão e eu segui.
Escrever uma carta dizendo que eu era
um pai de familia buscando o sustento,
não era conspirador e não queria abrir feridas do passado.

Nunca mais fui "procurado".
Ah, a carta eu protocolei na OAB dele,
para tornar o caso público.

E não é que o cara ganhou a eleição nacional?

E não é que o cara foi ccc na juventude,
conforme minhas fontes, a revista O Cruzeiro e estudantes daquela época?


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