quinta-feira, 6 de agosto de 2009

As Duas Ditaduras

Análise

A ditadura clandestina era formada por setores das Forças Armadas que queriam mais rigor contra os inimigos do regime militar.

Os radicais de alta patente remuneravam regiamente os encarregados das ações terroristas planejadas por eles, usando siglas fictícias para indicar a autoria.

Mostravam com os atentados sua insatisfação contra pessoas e instituições que a repressão oficial não podia ou não queria alcançar.

Através da violência indicavam também o caminho a seguir.

Um exemplo claro. No governo Medici - quando foi maior o número de casos de tortura e desaparecimento de combatentes da Democracia - os atentados somam dois, contra o humor do jornal O Pasquim.

As ações: pichação e empalastelamento. Depois, todos da redação ficaram presos alguns dias. Os agentes da ditadura clandestina também se ocupavam de ações da repressão oficial.

No período Figueiredo, marcado pela decretação da Lei da Anistia, a qual eram contra, a conta chega a 41, com assassinato e sequestro.

Atentados "leves" como pichações, explosão de bombas fracas, depredação e ameaças eram geralmente assinados pelas siglas GAC, FUR, MAC, MRN. Exceção é o período Costa e Silva.

Quando o atentado era assinado pelas siglas AAB, FPN, VCC, indicava sequestro, morte ou prejuízo material elevado provocado por bombas potentes só disponíveis nos quartéis do Exército.

Exceção é a trajetória da sigla CCC. Sua primeira aparição foi em 63, no atentado ao ministro de Goulart, Pinheiro Machado, no largo S. Francisco em SP. Policiais civis e militares estavam no grupo.

Depois a sigla reapareceu com força total em 1968, integrada por
estudantes, com cobertura e municiamento policial. A ditadura clandestina também usou a sigla algumas vezes até 80 para a autoria de mais ações violentas.


Em seguida, um paralelo entre os governos da ditadura oficial,
os atentados terroristas de extrema direita e os fatos políticos marcantes que levaram ou que resultaram nas ações.

Costa e Silva

26 atentados

- Dois assassinatos
- Quatro sequestros
- Espancamento
- Bombas

Siglas usadas: CCC, MAC, FUR

Fatos do periodo - Protestos de estudantes nas ruas e de parlamentares no Congresso pela Democracia.
Edição do AI 5 e endurecimento total do regime militar

Medici

Apenas pichação e empastelamento do jornal humorístico carioca "O Pasquim". Logo em seguida a ditadura oficial prendeu todos da redação como complemento à intimidação.

Sigla usada: CCC

Fatos do período - Criação da Oban, Doi-Codi.
Guerrilha urbana e rural começam a atuar em defesa da Democracia.

Entre 70 e 75 não há notícia de atentados de extrema direita mas no período desapareceram 47 brasileiros e 72 morreram em câmaras de tortura, nas contas do Comitê Brasileiro pela Anistia.

Geisel

17 atentados

- Três sequestros
- Bombas das Forças Armadas na ABI e OAB
- Pichação
- Agressões
- Depredação
- Invasão
- Metralhamento
- Bombas

Siglas usadas : AAB, MAC, GAC

Fatos do período - Início da "lenta e gradual" abertura política.
Crise internacional do petróleo

Figueiredo

41 atentados

- Um assassinato
- Um sequestro com agressão
- Cartas bomba
- Depredação
- Ameaças
- Agressões
- Incêndio
- Pichação
- Metralhamento

Siglas usadas: MRN, CCC, FPN, VCC

Fatos do período - Decretada a Anistia Ampla, Geral e Irrestrita (?)



As siglas funcionavam numa espécie de divisão de trabalho - para simples pichações eram umas, para ações violentas eram outras, exceto no caso do CCC.

Os componentes dos grupos eram os mesmos em cada período, embora as siglas fossem diferentes: integrantes dos "orgãos de segurança ", policiais, caceteiros e individuos desclassificados, todos bem remunerados.

Para cada ação preparava-se a logística de cobertura. Conclui-se que
eram vários os envolvidos.

A única identificação positiva foi, por ironia , no atentado que não deu certo, no Riocentro, em 1981. A imprensa chegou a tempo para fotos e reportagem: a logística de proteção aos militares-terroristas também falhou...

O artefato explodiu no colo do sargento Rosário quando era manipulado para ser instalado no quadro de energia do local, durante um show de música popular brasileira a favor da Democracia.

Além do sargento que morreu despedaçado dentro de automóvel Puma, participou da ação um tenente, hoje coronel do
Exército Brasileiro.

Todos os que participaram desses atos terroristas ficaram impunes, alguns foram promovidos a posições importantes, trabalham até hoje na máquina do Estado ou se aposentaram.

A Força da Grana

Analisemos agora de onde vinha a " remuneração" aos elementos convocados pela ditadura clandestina em cada período de governo militar.

Uma das razões do silêncio é que com o dinheiro ganho no "negócio da tortura e do atentado" comprava-se casa, apartamento , viajava-se ao exteror ou montava-se um bom negócio. O silêncio era bem remunerado.

Dona Eunice Paiva, esposa do deputado federal Rubens Paiva, até hoje desaparecido, ouviu de um torturador que "com o dinheiro ganho no negócio" poderia mandar os filhos para estudar na Suiça.

Uma evidência de que o SNI participava da ditadura clandestina deu a Veja, no momento mais violento do regime militar.

O general chefe, com fama de linha duríssima, disse que triplicou o seu orçamento no período Medici, e que a maior "verba" era gasta com... informantes.

Como tudo era secreto e sem qualquer controle, não se sabe o que a agência de espiões da ditadura fazia com os milhões vindos dos impotos pagos por nós.

Outra evidência de que se sabia o que cada um fazia foi dada pelo Estadão, quando uma bomba foi jogada pela AAB no Cebrap em setembro de 76.

O instituto de pesquisa era dirigido pelo sociólogo Fernando Henrique Cardoso.

O secretário de "Segurança" de S. Paulo, coronel PM Erasmo Dias, conhecido radical da época, informou ao governador Paulo Egídio Martins que "mandou parar com as bombas".

O industrial Severo Gomes ouviu a conversa e a revelou ao jornal.

Atentados de extrema direita nos governos militares

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