“Direito à Memória e à Verdade” conta a história de 45 mulheres assassinadas e desaparecidas durante a ditadura de 1964-1985.
Foi lançado na PUC em São Paulo seis dias antes do aniversário de 46 anos do golpe de 31 de março de 1964.
Esse é o terceiro volume da série, originada a partir do relatório Direito à Memória e à Verdade.
Relatos de 27 sobreviventes de diferentes organizações de resistência à ditadura, armadas ou não fazem parte da história.
Algumas estavam grávidas, outras amamentavam, todas foram torturadas e, não raro, estupradas.
Na apresentação, o ministro dos Direitos Humanos Paulo Vannuchi faz uma previsão:
"Pode mudar opiniões de quem ainda resiste à elucidação profunda de todos esses episódios como passo necessário a uma reconciliação nacional”.
Em seguida, a ministra de Política para Mulheres, Nilcéa Freire, defende ampla apuração da verdade:
“A superação dos fantasmas que ainda assombram nossa história recente exige confrontá-los. Para exorcizá-los, será preciso retirá-los dos lugares onde estão escondidos, nomeá-los, olhá-los nos olhos e compreender os mecanismos que os permitem surgir”.
As mortas e desaparecidas são divididas em três grupos: de 1964 a 1974, incluindo o período agudo da repressão; de 1974 a 1985, já no processo classificado de “distensão”; e a Guerrilha do Araguaia, no final da década de 1960 e início da de 1970, na região do rio Araguaia.
Todas são acompanhadas de fotos mostrando rostos jovens, alguns quase infantis, como o de Aurora Maria Nascimento Furtado (1946-1972), que estudava Psicologia na USP e militava na UNE (União Nacional dos Estudantes) e na ALN (Ação Libertadora Nacional).
Conforme o livro, “Aurora foi submetida a pau de arara, choques elétricos, espancamentos, afogamentos e queimaduras, além da “coroa de Cristo”, fita de aço que vai sendo apertada aos poucos e esmaga o crânio.
Morreu no dia seguinte”.
Seu corpo, porém, foi encontrado no subúrbio do Rio crivado de balas.
Entre os depoimentos de sobreviventes, há o de Damaris Lucena, que hoje vive em S. Paulo.
Era feirante e militante da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária). Foi presa quando seu marido morreu a tiros à queima-roupa em 1970.
“Minha boca ficou toda inchada, cheia de dentes quebrados (…). Minha vagina ficou toda arrebentada por causa dos choques. Meu útero e minha bexiga ficaram para fora. Eu tive de fazer operação em Cuba, levei 90 pontos e estou viva por milagre”, relata.
O livro é mais um esforço para apuração e divulgação da verdadeira história da repressão política na ditadura, enquanto o governo expande a procura de restos mortais de desaparecidos para além da região do Araguaia.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário