sexta-feira, 30 de abril de 2010

Livro conta como foi o massacre da mulher brasileira durante a ditadura

“Direito à Memória e à Verdade” conta a história de 45 mulheres assassinadas e desaparecidas durante a ditadura de 1964-1985.

Foi lançado na PUC em São Paulo seis dias antes do aniversário de 46 anos do golpe de 31 de março de 1964.

Esse é o terceiro volume da série, originada a partir do relatório Direito à Memória e à Verdade.

Relatos de 27 sobreviventes de diferentes organizações de resistência à ditadura, armadas ou não fazem parte da história.

Algumas estavam grávidas, outras amamentavam, todas foram torturadas e, não raro, estupradas.

Na apresentação, o ministro dos Direitos Humanos Paulo Vannuchi faz uma previsão:

"Pode mudar opiniões de quem ainda resiste à elucidação profunda de todos esses episódios como passo necessário a uma reconciliação nacional”.

Em seguida, a ministra de Política para Mulheres, Nilcéa Freire, defende ampla apuração da verdade:

“A superação dos fantasmas que ainda assombram nossa história recente exige confrontá-los. Para exorcizá-los, será preciso retirá-los dos lugares onde estão escondidos, nomeá-los, olhá-los nos olhos e compreender os mecanismos que os permitem surgir”.

As mortas e desaparecidas são divididas em três grupos: de 1964 a 1974, incluindo o período agudo da repressão; de 1974 a 1985, já no processo classificado de “distensão”; e a Guerrilha do Araguaia, no final da década de 1960 e início da de 1970, na região do rio Araguaia.

Todas são acompanhadas de fotos mostrando rostos jovens, alguns quase infantis, como o de Aurora Maria Nascimento Furtado (1946-1972), que estudava Psicologia na USP e militava na UNE (União Nacional dos Estudantes) e na ALN (Ação Libertadora Nacional).

Conforme o livro, “Aurora foi submetida a pau de arara, choques elétricos, espancamentos, afogamentos e queimaduras, além da “coroa de Cristo”, fita de aço que vai sendo apertada aos poucos e esmaga o crânio.

Morreu no dia seguinte”.

Seu corpo, porém, foi encontrado no subúrbio do Rio crivado de balas.

Entre os depoimentos de sobreviventes, há o de Damaris Lucena, que hoje vive em S. Paulo.

Era feirante e militante da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária). Foi presa quando seu marido morreu a tiros à queima-roupa em 1970.

“Minha boca ficou toda inchada, cheia de dentes quebrados (…). Minha vagina ficou toda arrebentada por causa dos choques. Meu útero e minha bexiga ficaram para fora. Eu tive de fazer operação em Cuba, levei 90 pontos e estou viva por milagre”, relata.

O livro é mais um esforço para apuração e divulgação da verdadeira história da repressão política na ditadura, enquanto o governo expande a procura de restos mortais de desaparecidos para além da região do Araguaia.

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