quinta-feira, 22 de abril de 2010

Teoria do Terror

No gráfico de registro de atentados de extrema direita nota-se atividade regular e intensa no período 79/80, distribuída praticamente mês a mês, frequência nunca antes registrada

O descontentamento desafiador da ditadura clandestina com a administração Figueiredo e sua Lei da Anistia salta aos olhos.

Após oito meses de atentados quase mensais, os radicais das Forças Armadas decidiram também afrontar o Papa João Paulo II em visita ao Brasil.

Sequestraram e torturaram o dr. Dalmo Dallari (4/7/80), expoente católico de defesa dos direitos humanos, que faria a saudação ao pontífice na cerimônia pública de S. Paulo.

E marcaram para 27 de agosto, no Rio de Janeiro, o protesto mais violento, com carta bomba para a OAB. O corpo da secretaria Lida Monteiro ficou despedaçado.

O próximo protesto seria no centro de convenções Riocentro. O desfecho trágico daquele atentado calou e convenceu os descontentes a aderirem ao que observadores chamam de Teoria do Autoritarismo. Os atentados cessaram de vez no Brasil.

A Teoria do Autoritarismo propõe a saída honrosa de cena e a transmissão do poder aos civis "sob condições".

A primeira delas: negar que houve ditadura. Os excessos seriam esquecidos e se daria a conciliação das Forças Armadas com o povo brasileiro.

Postos chave na máquina do "estado de direito" foram prometidos aos "colegas das bombas", assim como aos seus aliados civis como garantia.

Antes mesmo da nova Constituição, como parte do plano, o Congresso militar já havia removido o chamado "entulho autoritário", aprovando um pacote de medidas que revogava disposições que limitavam os direitos políticos.

Pelo plano, o presidente civil seria indicado pelo colégio eleitoral dos militares e ainda não pelo voto popular - o que de fato ocorreu com a escolha de Tancredo Neves-José Sarney.


Assim legitimado, o regime se caracterizava não como uma ditadura militar mas como um "governo autoritário".

A volta da inflação, o caos no setor público, a dívida externa gigante (cresceu quatro vezes de 74 a 77), a escandalosa concentração da renda nacional e as graves violações aos direitos humanos durante a perseguição política (426 desaparecidos, mais de dois mil torturados...) seriam deixados de lado em troca da liberdade!

E a memória brasileira está atrelada ao novo oficialismo que reconta seletivamente a nossa história contemporânea.

E a ditadura terrorista tem até hoje o poder de determinar aos vivos a memória permitida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário